Por que final em jogo único NÃO funcionaria na América do Sul?

As vezes, o futebol sul-americano apresenta uns traços de "colonialismo" em relação as praticas adotadas pelo futebol europeu, e até mesmo no que diz respeito a cultura do esporte no velho continente. Tentamos, muitas vezes, fazer aqui o que eles fazem lá, na esperança de estarmos fazendo o melhor para o desenvolvimento do jogo, mas nem sempre, o que é melhor pra eles, é melhor pra nós. Uma das mudanças sugeridas pela CONMEBOL para as próximas edições da Copa Libertadores é a implantação do jogo único na final, assim como acontece na UEFA Champions League desde 1955-56. E temos todos os motivos pra crer que isso não funcionaria aqui.

A imagem é falsa, mas a possibilidade foi real: Miami se candidatou pra sediar a final da Libertadores. (Montagem: QCB)
Na Liga dos Campeões, a cidade-sede da partida decisiva é definida antes do inicio da competição, podendo resultar numa final em um país com dois clubes de um país completamente diferente. Porém, como os países europeus são próximos um do outro, e a final da Liga é tratada como um dos eventos esportivos mais esperados da temporada, a partida é sempre um sucesso de publico e de audiência televisiva. As torcidas dos clubes participantes sempre "invadem" a cidade-sede, e o resto do publico é composto por turistas interessados no espetáculo.

Quando a CONMEBOL cogitou passar a fazer a final da Libertadores no mesmo formato que a UEFA faz na Liga dos Campeões, as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Lima e Miami se candidataram pra receber a partida. Rio de Janeiro e São Paulo por serem dois polos importantes do futebol sul-americano; Lima por ser um forte ponto turístico e o Peru estar num ponto de ascensão futebolística; Miami por os Estados Unidos terem o interesse de trazer grandes eventos futebolísticos pro país, e a Flórida ter uma ligação forte com o povo latino.

Bom, a primeira final em jogo único já foi adiada pra 2019, e duas das cidades saíram da disputa: Rio de Janeiro, por problemas governamentais, perdeu pra São Paulo como concorrente brasileiro, e Miami, que estava sofrendo uma grande rejeição por parte dos torcedores, saiu por não ser do interesse da CONMEBOL uma final fora da América do Sul. A disputa fica entre Lima, e São Paulo, que se destaca pela forte estrutura e por ter voo direto pra todas as capitais do continente.

Imagem aérea da Arena Corinthians: São Paulo pode sediar final da Libertadores em 2019. (Foto: Globoesporte)
Existe dois motivos fundamentais pra grande parte dos espectadores da Libertadores ser contra essa mudança no formato de realização da final: A possibilidade de estádios vazios pela distância entre a cidade dos clubes participantes e a cidade sede, e a perda do fator "casa-e-fora", que é algo que influência muito na decisão da competição. É importante observar que o formato atual de final casa bastante com a cultura sul-americana, sua relação com o futebol em si, e com a própria Libertadores.

A questão dos estádios talvez seja a mais preocupante. Imaginem uma decisão entre Libertad e Peñarol no Maracanã: A procura de ingressos pelos habitantes do Rio de Janeiro não seria muito alta, motivado pela falta de identificação dos mesmos com os clubes participantes, e pelos certamente altíssimos preços dos ingressos, por se tratar da final do torneio mais importante do continente. Talvez se for um clássico, como Boca e River, o interesse seja um pouco maior, mas nada comparado ao interesse que geraria uma final em ida-e-volta com um dos clubes da cidade participando. Seria difícil também para os torcedores virem de suas cidades para o Rio, visto que a locomoção por aqui não é tão fácil, nem tão barata como na Europa.

Perder os dois jogos, um no estádio de cada clube finalista, também representa abrir mão de um dos fatores culturais da Libertadores que mais influenciem nas decisões: O clima intimidador sempre feito pelas torcidas do time da casa para intimidar os adversários. Sinalizadores, bandeirões, cânticos durante todo o jogo. Tirar isso das finais é neutralizar uma parte importante da cultura do torneio, em prol de adotar uma medida que pertence a cultura de outro continente. Esperamos que a CONMEBOL reconsidere sua decisão, e respeite nossas tradições. Há vários pontos do futebol do nosso continente que precisam de evolução. Esse, certamente, não é um deles.

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