“A internet sempre foi um culto à personalidade” — Entrevista com Álvaro Mamute

Um dos fundadores do canal N², dono do selo N-Rec, Álvaro Mamute é um rapper e YouTuber que assumidamente odeia as duas cenas. Com músicas com artistas como Luccas Carlos e De Leve no currículo, Mamute se destaca pela lírica, e nós conversamos com ele sobre projetos futuros, sobre Rap, sobre YouTube e muito mais.

Álvaro Mamute em cena da primeira temporada de "Projeto Jaz" (Foto: Projeto Jaz)
Starbox: Quando e porquê você começou a fazer rap?
Mamute: Eu comecei a fazer rap em 2007. Comecei a jogar basquete, e no time tinha um moleque que eu fiquei amigo pra caralho e que gostava muito de rap. Eu nunca havia sido fã, até então. Esse cara me fez escrever umas letras junto com ele, a gente tinha planos de criar uma dupla, mas até 2010 a gente nunca tinha gravado nada.
Em 2010 ele gravou o primeiro rap dele e não queria soltar porque estava com medo da recepção do público. Nisso, eu gravei uma letra minha também e soltamos juntos. Comecei a fazer rap, basicamente, porque esse meu amigo não queria fazer as coisas dele sozinho. E só para constar, hoje ele é merecidamente muito mais famoso do que eu, o menino Luccas Carlos, ou seja: O meu primeiro objetivo com rap eu cumpri!



S: Quando e porquê você começou a fazer conteúdo pra internet? MMT: Comecei a fazer conteúdo para internet em 2013, porque estava entediado. Sempre tive vontade de fazer, mas só comecei MESMO porque minha ex-namorada começou um curso intensivo para tentar o vestibular mais difícil do país, e acabamos ficando sem tempo para nos vermos. Daí, juntei com Thacio, Coruja e Victor, meus três melhores amigos de sempre, e começamos o NiggasNerds. Era para ser um canal de vlogs, com raps eventualmente, mas, não foi isso que aconteceu.
S: Você é um cara que está inserido dentro do contexto do Rap, e do cenário do YouTube no Brasil. Quais as principais semelhanças que você enxerga entre ambas as cenas? MMT: As duas cenas são compostas por gente extremamente vaidosa, que se leva a sério demais e eu odeio bastante as duas (risos). Eu só crio os dois tipos de conteúdo, tento me manter distante dos dois cenários porque eu não tenho nada a ver com eles. Eu não me levo a sério, não trato nenhum dos dois como uma profissão apesar de já ter tentado, e não acredito que nenhum dos dois seja tão importante quanto pensa ser. Tanto o rap quanto o Youtube tem um valor cultural gigante, e um impacto de massificação absurdo, mas os dois deixaram isso subir à cabeça.
S: No som Admirável Mundo Novo, você destila críticas ao atual cenário do YouTube de uma forma geral, que surgiu com toda uma expectativa de ser algo que iria superar a televisão, e as vezes acaba trazendo um conteúdo mais fútil, raso e de maneira igual a tantos outros. Você consegue identificar um Breaking Point, onde o conteúdo da internet deixou de exigir um viés inovador e se tornou, de certa forma, mais do mesmo? MMT: Não sei se há um breaking point claro. Na minha opinião, isso sempre esteve fadado a ser assim. A internet sempre foi um culto à personalidade escancarado e nós simplesmente não percebemos isso de cara. No final, ninguém ligava pro que o Felipe Neto estava falando, e sim PARA O FELIPE NETO. Prova disso, é que ele hoje continua famoso, influente, com milhões de visualizações, fazendo um conteúdo completamente diferente, e que não se destaca pela originalidade ou qualidade, e sim por ser do Felipe Neto.



S: Sempre houve um preconceito vindo de parte do público do rap com os mais nerds, porém, hoje em dia vemos rappers como o Funkero, que fazem várias referências fodas de quadrinhos, de cultura pop, e que acabam sendo bastante respeitados, além do fato de que o público nerd está começando a consumir muito esse tipo de música, vemos a Marvel lançando capas variantes baseadas em álbuns de rap, entre várias outras coisas. Você acha que estamos caminhando para uma união mais sólida das duas culturas? Você consegue ver um rapper nerd mega estourado e respeitado na cena atual? MMT: Que pergunta difícil da porra. Eu não consigo ver, mas sou um pessimista. A cena do rap no Brasil também vive muito de culto a personalidade. Só que a personalidade aqui é um modelo de ídolo, e não uma pessoa específica. O modelo é: O cara que come todo mundo, que se vangloria de fazer coisas erradas e sair incólume e que mete medo nos outros. Esse é o arquétipo do rapper venerado no Brasil. Pode ser que vários MCs geniais como o Baco e o Diomedes, o Rapadura, ou os nerds mesmo, como o PS, ganhem muito respeito, mas quem não entra no arquétipo não tem o mesmo valor pra cena. É FLAGRANTE. A ÚNICA exceção é o Marechal. O Emicida e o Criolo, assim como o D2 e o Pensador, hoje, são maiores que o rap, transcendem essa imagem, estão no pop, e o rap acaba respeitando por tabela. Talvez essa sim seja a alternativa.
S: O que você não fez, em questão de conteúdo, que você ainda quer muito fazer? MMT: Um documentário e um longa-metragem de ficção. Tenho projetos pras duas coisas e espero conseguir tirá-las do papel nos próximos anos. No rap, ainda quero gravar uma música com o D2.
S: Você criou o selo NRec, que tem uma taxa de aceitação muito alta entre o público, apesar de ainda não ter números astronômicos. Qual o máximo que você vê a NRec atingindo? Qual a meta de vocês? MMT: Eu, hoje, tenho planos completamente diferentes para NRec dos que tinha anos atrás. Hoje eu vejo que, organizando direito, ela pode crescer pelas próprias pernas, sem depender de "vender seus talentos" para outros selos. Eu não sei onde podemos chegar, mas espero ter números respeitáveis até o final de 2017. Temos muitos projetos bons a caminho.


S: Qual foi a última coisa que te impressionou no Rap? E no Youtube? MMT: No rap é Sulicídio, sem dúvidas. Uma track inteligente, que funcionou a seu propósito, e que virou o rap de cabeça para baixo. No Youtube, bom, nada me impressiona há algum tempo. Acho que o Casey Neistat, mas agora que ele está parando com os Dailys, estou um pouco órfão de conteúdo surpreendente.

Essa entrevista foi postada originalmente no dia 04 de Dezembro de 2016, na nossa página do Facebook. Se você deseja receber nosso conteúdo não só pelo site, você pode nos seguir no Instagram, no Twitter, curtir a nossa página no Facebook e assinar o Feed dos nossos podcasts. Nesses locais, você encontrará conteúdos diferenciados todos os dias, e nos acompanhará mais de perto. Não deixe de conferir!

Por Lucas Carvalho

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